terça-feira, 26 de junho de 2012

A IMPORTÂNCIA DO CULTO DOMÉSTICO


 “E perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração...” (At 2.46)

O livro de atos é o registro histórico do surgimento da igreja de Jesus como comunidade de fé. Lemos nele que muitos se uniam, dia após dia, aos crentes na pregação de Jesus de Nazaré. Em pouquíssimo tempo a jovem igreja cresceu em proporções incríveis. Por que ela cresceu tanto? Sem dúvida, a chave para entendermos esse fator está expresso no versículo que encabeça este texto.

Em primeiro lugar, os crentes mantinham-se juntos, unidos, com um mesmo propósito todos os dias no templo em Jerusalém. Alguém já disse, com bastante acerto, que se um fio estiver partido é impossível à energia elétrica chegar a qualquer aparelho. Da mesma forma um grupo dividido, espalhado, não pode alcançar sucesso nos seus empreendimentos, quaisquer que sejam eles (Mt 12.25).

Em segundo lugar, eles compartilhavam o que possuíam com seus irmãos de fé. Ninguém na igreja sofria privações severas. Aqueles cristãos estavam atentos a necessidade dos seus iguais. Eis o retrato vivo do mandamento de Jesus a respeito do amor ao próximo muito bem explicado pelo apóstolo Tiago na epístola que leva seu nome. (Tg 2.14-17).

Em terceiro lugar, eles partiam o pão em casa. Essa passagem tem duplo significado. Primeiro, os irmãos reuniam-se nas casas uns dos outros para fazer refeições, ninguém era excluído. Segundo, e assaz importante, a igreja cultuava a Deus, nas casas, depois desses banquetes. Temos aqui a semente do triunfo da santa igreja de Jesus, a saber, o culto doméstico. Os crentes viram a igreja crescer e florescer por causa dos muitos cultos realizados nas residências. Pais, filhos e parentes, amigos realizavam celebrações regularmente em seus lares.

Em quarto e último lugar, o ambiente dos banquetes e cultos domésticos era revestido de contagiante alegria e simplicidade de modos. Afinal, ali a embriaguez e a festividade eram provocadas pelo amor de Jesus, especialmente pela ativa ação do bendito Espírito Santo derramando as bênçãos do Senhor sobre irmãos e irmãs; nada tinha que ver com bebidas alcóolicas ou outros elementos nocivos (Ef. 5.18-21). Foi desta maneira que a igreja avançou e o Senhor operou nas famílias que constituíam a igreja.

E você, caro irmão e irmã? Tem feito assim? Em sua casa há cultos domésticos? Você pai, você mãe tem reunido seus filhos para prestar culto a Deus no seu lar todas as semanas? E você marido e esposa? Se sua resposta é sim, prepare-se pois há som de abundante chuva da graça de  Deus vindo na sua direção!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO

Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que misturei. Provérbios 9.5
Eu e minha esposa tínhamos saído da sessão de cinema no Shopping. Estávamos bem perto da praça de alimentação, por isso decidimos beliscar alguma coisa. Esses lugares possuem diversas opções de restaurantes. As luzes, as cores, as mesas — tudo é pensado com o objetivo de atrair os visitantes que por ali passam.  Nestes espaços é possível encontrar quase todos os tipos de cozinha: italiana, japonesa, árabe, chinesa, etc. O cardápio das casas oferece uma lista de pratos variados para ninguém ficar sem alternativas na hora de comer. Claro, nem sempre os clientes fazem boas escolhas. Com efeito, após a primeira garfada o sabor da decepção toma conta do paladar. E a sensação de que foram enganados pela propaganda torna o gosto ainda pior. Sem contar o sal de frutas que temos de tomar depois. Eu que o diga...
A pauta do momento nas empresas, nos governos, nas televisões, na boca do povo é a espiritualidade. Muitos buscam nela recursos para melhorar suas vidas pessoais, as relações no trabalho e a produtividade dos colaboradores. Quem sai à procura dela se depara com uma grande praça de alimentação repleta de “restaurantes espirituais” oferecendo cardápios cheios de “pratos saborosos”.  Os “chefs da espiritualidade” prometem trazer o amor da sua vida em sete dias ou amarrá-lo. Outros garantem tirar olho gordo de sobre as empresas. Os mais “cults” dizem que seus ensinos podem revolucionar os ambientes de trabalho e os lares. Os “chefs” usam ingredientes de péssima qualidade na hora de preparar refeições. Pior, seus assistentes na cozinha são forças espirituais malignas que os incautos nem sequer imaginam. Os pratos deles matam espiritualmente! Falsas religiões, doutrinas e falsos mestres compõem o time desses restaurantes macabros. A mensagem anunciada por eles não chama os ouvintes ao arrependimento de pecados. Nem os faz se voltarem para o Deus Todo-Poderoso. O grande lance é “sinta-se bem”.   
A Bíblia mostra no livro de Provérbios a Sabedoria avisando ao povo que o banquete dela está pronto. Todos estão convidados à “boca livre”. Ninguém precisa pagar para entrar e desfrutar dos pratos ali postos. Basta atender o convite.  
Isto se cumpriu no advento de Jesus Cristo (Luc. 14.15-24). O “chef” Jesus veio ao mundo convidar todos os homens a se servirem gratuitamente da mesa de Deus. Mas os homens preferiram continuar pagando para comer pratos ruins. Não quiseram largar o pecado e a maldade. Por esta razão sofrem azias espirituais todos os dias. E ainda que tomem sal de frutas, o desconforto nunca termina. Mas todos aqueles que atenderam/atenderem o convite de Jesus não só comeram os pratos mais finos, como também nunca mais terão que tomar nada para a azia espiritual.
Ore: Pai eu quero comer deste banquete espiritual preparado por teu Filho. Por isso, abandono os pratos da iniquidade. Peço isto para tua glória e em nome de Jesus. Amém. 
   
  
    

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

QUEM É O SEU PAI?

 “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” João 8.44(ARA)
Durante o ano de 2010 a cena política em Brasília estava em polvorosa. Nuvens escuras e carregadas permaneciam sobre o telhado de vidro da esplanada dos ministérios. Os trovões e relâmpagos anunciavam a chuva torrencial que se estava formando. Mas o que era ruim sempre pode piorar. Alguém resolveu atirar uma pedra. O telhado trincou. Depois veio uma saraivada delas. Então o teto estilhaçou-se caindo ruidosamente. Denúncias veiculadas na imprensa pipocavam aqui e acolá. Mostravam ministros de Estado imiscuídos nas falcatruas mais escabrosas. O circo midiático firmou as estacas das suas tendas junto às portas dos gabinetes ministeriais. Todos queriam captar a fala dos ministros ou de alguém pertencente ao seu séquito. As explicações pululavam. Eram contraditórias, inconsistentes, inverossímeis, incríveis. O barco estava afundando. A Presidência da República precisava agir. E agiu. Promoveu uma “faxina” em Brasília. Demitiu uns e aceitou o “pedido” de outros. Um dos que foram flagrados neste escândalo recebeu maior atenção da imprensa nacional: o ministro-chefe da Casa Civil — outrora chefe da pasta da Fazenda nos primeiros anos da gestão anterior. Este senhor era reincidente nas mentiras. Havia caído no passado por causa delas. E agora repetia a dose. Resultado: a moribunda credibilidade política tombava diretamente no jazigo da opinião pública.
Os judeus resistiam peremptoriamente ao ensino de Cristo — replicavam a tudo o que Ele dizia. Contudo, sua tréplica era consistente, verossímil, crível, verdadeira. O Senhor não relativizava a verdade. Jesus era a Verdade corporificada. Os adversários procuravam apanhá-Lo nalgum erro. Nada. Tentavam induzi-Lo a falar dolosamente. Fracasso.  Até ousaram manchar a reputação do Filho de Deus com várias mentiras. Mas para decepção dos maldizentes, Jesus só falava o que ouvia do seu Pai. O caráter e conduta ilibados do Mestre emudeciam as vozes contrárias (Jo. 8.46, At. 10.38).
Neste capítulo, O Senhor Jesus defende a própria autoridade e reclama para si a paternidade de Deus. Os judeus, por seu turno, dizem ser Abraão o pai deles. Todavia, O Cordeiro de Deus protesta dizendo que, se fossem filhos do amigo do Todo-Poderoso, ouviriam o ensino de Jesus e as obras dos tais seriam semelhantes às do patriarca hebreu. A entrevista atinge o clímax, o Senhor revela a todos quem é o legitimo pai de parte do ajuntamento que lhe ouvia: o diabo. O Mestre segue explicando que o líder dos espíritos imundos é homicida e mitômano. Incapaz de dizer a verdade ou permanecer nela. Afinal, é da natureza de satanás mentir e destruir. Estado irremediável. 
Com efeito, os judeus se enfurecem, rangem os dentes. Quem não ficaria transtornado se chamado mentiroso e filho do “coisa ruim”? Ou quem aceitaria receber, em sã consciência, este epíteto macabro? Ninguém. Todavia, Jesus não doura a pílula — quem não dá ouvidos às suas palavras é cria do príncipe das potestades do ar. Portanto, estas pessoas se esforçarão para fazer as obras deste pai maldito. A própria natureza irá conduzi-las neste processo de mentiras sem fim. Todos estão sujeitos a esta prática perversa. E ao tentar justificarmo-nos aos olhos de Deus, a situação piora ainda mais. São as célebres contradições. Somem-se a isso as reincidências na maldade.
Porém, é possível quebrar essa “maldição hereditária”. Cabe ao ouvinte/leitor baixar a guarda, reconhecer suas faltas, depor as armas, aceitar a verdade proferida por Cristo, recebê-lo como seu Senhor e Salvador pessoal e deixar o mal para trás. Desta forma, sua natureza será mudada. Você ganhará um novo Pai. E no fim dos tempos, irá escapar da “faxina” que o Governo Celestial fará na segunda vinda de Jesus Cristo à Terra.


                 

domingo, 15 de janeiro de 2012

A GRANDE CASA DE DEUS

Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!
A minha alma está anelante e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.
Até o pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si e para sua prole, junto dos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.
Bem-aventurados os que habitam em tua casa louvar-te-ão; continuamente. Salmo 84.1-4

Inegavelmente o livro de Salmos é o mais querido da maioria dos leitores da bíblia. E não é difícil entender a razão deste apreço. Nele encontramos as emoções e sentimentos mais comuns a todos nós. Os versos deste livro desnudam a alma humana e estreitam os laços entre escritor e leitor. Amores, alegrias, decepções, tristezas. Está tudo registrado sem cortes, adaptações ou eufemismos. 
O salmo em apreço um é um hino ao santuário de Deus, o templo do Senhor, à vida na comunidade de Deus.  Nele encontramos versos encharcados de alegria pelo fato do salmista poder habitar no templo de Deus e cantar louvores a Ele juntamente com seus iguais.  Isso contrasta fortemente com o que estamos vendo acontecer na Europa onde templos estão sendo fechados para dar lugar a restaurantes, cinemas e teatros. Em solo brasileiro semelhante fenômeno começa a se manifestar ainda timidamente. Pessoas deixam para trás o templo de Deus escoradas nas mais diferentes escusas. Algumas abraçaram o mundanismo, outras sofreram experiências amargosas e não conseguem romper com os grilhões do ressentimento. Simplórias no raciocínio julgam ser tudo igual em qualquer lugar. Perspectiva muito distante da realidade.
A bem da verdade o templo, o santuário, perdeu relevância para elas. Creem que para Deus também.
Quando o jovem rei Salomão inaugurava o templo projetado pelo seu falecido pai Davi algo incomum marcou a vida de todos os presentes àquele evento singular: a glória do Deus eterno desceu sobre o ambiente como sinal de aprovação do Senhor. Ainda mais, Salomão ouviu Deus lhe dizer que seus olhos e ouvidos estariam atentos às orações e súplicas feitas ali. 
Séculos depois o próprio filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo que veio a Terra salvar o homem da condenação eterna, renovou a importância do culto a Deus no templo com sua ida a aquele lugar para adorar seu Pai com seus patrícios. Não obstante, Jesus esteve inúmeras vezes em sinagogas, as "igrejas" daquele momento. Anos depois da morte, ressurreição e assunção de Cristo aos céus, vemos os primeiros cristãos reunindo-se ALEGREMENTE no templo até o momento em que isso lhes foi permitido. 
Se avançarmos mais um pouco pela história, vamos encontrar mais exemplos que ratificam a importância do santuário de Deus pelo próprio Deus.
Phillip Yancey premiado escritor viveu os dois lados da questão: afastou-se do templo por longos anos, mas retornou por sua própria vontade. E chegou a conclusão de que ainda não inventaram nada melhor do que estar no templo de Deus, no meio da comunidade de Deus, mesmo que ela ainda guarde imperfeições inexoravelmente humanas.
Agostinho disse em sua obra Confissões, que nossa alma não descansa enquanto não repousar em Deus. Se até mesmo os pardais e as andorinhas, pássaros comuns, encontraram casa e segurança junto aos altares de Deus, não há dúvida de que nós também encontraremos. Não somente isto, também a graça, a misericórdia, a benção, o perdão e a bondade de Deus num templo ou santuário onde não se mercadeja a palavra de Deus, nem se espoliam os pardais e andorinhas de Deus. Antes onde recebemos ZOE, palavra de origem grega que significa: VIDA QUE É NATUREZA DE DEUS. Esse lugar existe e está bem perto de você.
Que a graça, a misericórdia e o amor de Deus lhe persigam hoje e sempre!    
Ore: Pai dá-me a benção de permanecer nos teus átrios mesmo diante dos infortúnios da vida. Ajuda-me a firmar meus passos de maneira que eu não me desvie de Ti. Para tua glória peço isto e em nome de Jesus.  Amém.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A LEBRE E A TARTARUGA E SUA LIÇÃO PARA 2012

 “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.” Coríntios 9.24
Há pouco tempo retomei a vida de corredor amador nas manhãs ensolaradas da praça principal da cidade onde moro. O corpo preguiçoso dava sinais de que precisava de mudança dos hábitos sedentários. Na praça, reúne-se bom número de pessoas de diversas idades com o mesmo objetivo: caminhar ou correr por uma vida saudável. Dia desses, eu estava “trotando” suavemente pela pista, lembrando muitas coisas, de repente, notei a aproximação de dois rapazes. Em poucos minutos ultrapassaram-me ganhando folgada dianteira. “Que vexame!” Pensei. Todavia, mantive a passada demorada apesar da tentação de imprimir ritmo maior. Continuei na minha. Mas, surpresa! Nova ultrapassagem da dupla vestida com calças jeans. “Ah! Não! Agora eu disparo!” Aquilo era um verdadeiro insulto a quem já foi o mais veloz da turma na adolescência. Embora “ultrajado” declinei da ideia. Fui dando voltas tranquilamente. O suor se apoderava de praticamente toda a roupa. Subitamente, percebi que estava sozinho. “Cadê aquelas lebres?” Após cruzar a placa que indicava o início dos quatrocentos metros, olhei para os bancos da praça e vi os dois, língua de fora, sem fôlego, vencidos pelo cansaço. “Três voltas numa pistinha dessas... esses camaradas são moles demais!” Dizia, nos meus solilóquios. Prossegui triunfante, aumentando a velocidade cautelosamente. Por fim, aqueles meninos tiveram que assistir — durante o tempo em que ficaram sentados —, várias idas e vindas minhas enquanto recuperavam as forças.
Quantos na vida agem assim, especialmente no início do ano, logo após fazer resoluções no meio do “Réveillon”. Começam numa velocidade impressionante. Antes mesmo que cheguem à metade, lá estão sentados nos bancos das praças, cansados e envergonhados vendo os que se prepararam melhor ultrapassá-los. Pior ainda são os que depositam forças e esperanças tão somente nas conquistas efêmeras e terrenais. Ignorando a perspectiva espiritual da vida, tornam Deus e o salvador Jesus Cristo assuntos triviais e de menor importância.
O apóstolo Paulo escrevendo aos Coríntios deixa claro que os que correm devem se preparar bem e fazê-lo de forma inteligente a fim de alcançar os louros da vitória. Este ensino se aplica a vida espiritual. Devemos correr bem aqui durante a vida, para depois nos encontrarmos com Deus. E só podem correr bem, com a certeza da vitória, aqueles que correm sob as orientações de Jesus Cristo — o treinador por excelência.
Ore: Pai ensina-me a correr nesta vida, sabiamente, para que eu triunfe e não seja envergonhado nem aqui nem no porvir. Com ações de graça eu lhe peço isto, em nome de teu filho Jesus. Amém.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O PRESENTE

“E, tendo passado ali naquela noite, separou do que tinha um presente para seu irmão Esaú...” Gn 32.13
Enquanto dirigia-me para o escritório no primeiro cômodo de casa, passei vagarosamente em frente à estante de livros localizada na sala. Parei. Virei-me na sua direção passando a olhar as prateleiras durante certo tempo. Num instante, a acareação. Lá estava o ‘homem’.
Deitado sobre a parte de baixo das prateleiras, Fiódor Dostoievski descansava quietamente.
Eu havia derrotado o barbudo de Moscou havia poucos meses. Esbocei um sorriso sarcástico, cheio de empáfia por causa da derrota que lhe impus no entrevero recente. Depois deste arroubo ‘pavônico’, pude notar que seus ferimentos exigiam cuidados. Levei-o para a mesa da cozinha onde a xícara de café solúvel com leite fumegava a espera do meu retorno. Belisquei guloseimas, puxei a cadeira e sentei-me apoiando os cotovelos sobre o retângulo fórmico de cor branco com detalhes laterais pretos. Cuidadosamente ia espalhando cola na vertical da parte de dentro da capa — na frente dela havia o desenho de um homem ajoelhado vestido num sobretudo verde cujas mãos concheadas seguravam a testa e a têmpora indicando indizível sofrimento, mas sendo consolado por uma mulher de cabelos ruivos repartidos por tranças à moda Rapunzel — e contracapa que continha listagem de romances publicados; estavam meio rotas e bastante soltas. Lembrei-me do dia em que meu cunhado — irmão mais velho da minha esposa—, presenteou-me com este exemplar em português de Crime e Castigo adquirido no sebo. Foi uma surpresa. “Por que isso?” Pensei rápido. Não importa, presente não é medalha de honra ao mérito. Posto que os esforços fazem-no merecedor. Agradecer e desfrutar do dom gratuito são a melhor coisa a fazer. 
O livro é obra-prima do escritor russo. Durante mais de quatrocentas páginas Fiódor desfia uma trama cheia de detalhamentos sofisticados, nuanças nervosas, personagens ricas sobejando emoções represadas aliadas a desordens psicológicas. Marca ‘dostoievskiana’ indelével.
Numa dessas noites de leitura as falas das personagens causaram-me estranheza. Resolvi investigar aquelas páginas amareladas pelo tempo. Descobri que o velho livro havia sido composto, pasme, numa tipografia da cidade de Lisboa, capital de Portugal. Ora, o português falado no Brasil, mesmo o de décadas atrás, tem singularidades que precipitaram sua emancipação do que é falado na terra de Pero Vaz de Caminha. Atualmente, vemos isso melhor na hora de decidir o português usado nos programas de computador a ser instalados na máquina. Portanto, eu tinha nas mãos não somente uma obra clássica, mas igualmente rara. Legítimo item de colecionador. É incrível o que se pode achar nestes sebos espalhados pela paulicéia desvairada.
Fico imaginando esta preciosidade anos sem conta passeando de mãos em mãos desde a terra lusitana até cair nas minhas. Veio-me à memória o encontro unitivo de Esaú e Jacó. Este, após muitos anos, agraciou o irmão de dádivas provocando-lhe surpresa.
O Senhor fez assim conosco. Deu-nos dádiva inigualável sem que a merecêssemos ou esperássemos. Enviou seu Filho Bendito para expurgar nossos malcheirosos pecados mediante sua morte vicária no monte Gólgota. Éramos dignos, na verdade, de açoites e danação eterna. Entretanto, o Pai anulou esta sentença transitada em julgado. Cabe-nos agora, ouvir sua voz, abandonar o viver iníquo e impudico, deixando todas as maldades para trás, enquanto caminhamos gratos pelas veredas do Senhor Jesus.




quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

QUO VADIS?

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” Jo 5.24 (ARA)
“A porta em que estávamos batendo durante toda a vida finalmente se abrirá.” C. S. Lewis

Era manhã em Mogi das Cruzes. Os céus bruscos assemelhavam-se a um fino tapete prateado sem gravuras estendendo suas franjas para além do cimo dos verdes montes enevoados que circundam a cidade. Aquelas colinas são entalhadas de pequenas casas geminadas; algumas encavaladas e outras dispostas ao longo de um espaço linear com alguns intervalos de terra entre uma e outra construção. É uma paisagem quase bucólica, não fossem os diversos tipos de arranha-céus, intenso tráfego de veículos e transeuntes pelas ruas grandes e espaçosas na área urbana.
As nuvens despejavam um chuvisco insistente.O frio era inofensivo. Eu e meu sogro andávamos a procura do Hospital estadual instalado nas proximidades da Rodoviária Municipal depois de uma sacolejante e barulhenta viagem de trem recheada por conversas sobre assuntos tão vitais quanto à descoberta de que a celebridade fulana vai estampar a capa da próxima edição de duas diferentes revistas de ricaços brasileiros.
Nossas roupas e bonés começavam a umedecer ainda que lentamente. Os chinelos encharcados faziam meus pés produzirem um barulho estranho toda vez que calçava o chão.“Parece pato de borracha sendo apertado.” Disse baixinho, após recuperar-me d’alguns devaneios extemporâneos. Valdir riu com o canto da boca enquanto fitava a rua de paralelepípedos e levava uma das mãos ao bolso esquerdo da blusa preta aveludada que vestia. Tirou um papelote branco com o nome e endereço do local anotado à caneta, aproximou-o dos olhos — revelando certa dificuldade em enxergar letras miúdas —, e concluiu estar no caminho certo depois de examinar, com seus elevados um metro e sessenta de altura, a fachada vermelha do edifício à frente. Ameaçou ir numa direção diferente, no entanto, a caturrice habitual o impediu de andar por caminhos menos conhecidos.
Chegamos ao portão principal do complexo hospitalar. Paramos diante da placa informativa responsável por mostrar as diferentes entradas e setores do prédio público. Em poucos minutos estávamos no guichê de atendimento fazendo o cadastro de Valdir. Durante a entrevista dele com a simpática atendente, observei de esguelha o cartaz afixado na parede bege à esquerda do balcão pedindo aos acompanhantes de 18 e menores de 60 anos a não permanência no saguão, especialmente nas estofadas cadeiras verdes. Compreensível. Afinal o número de pessoas enfermas aguardando consulta médica nestes espaços é impressionante.
O fluxo de entra e sai de pacientes é outro fator digno de admiração. Avisei meu sogro que iria para fora, apontando para o papel mostrei-lhe a recomendação. “É melhor assim antes que esse segurança convide-me à rua”. Pensei durante minha saída à francesa.

Diante do portão de vidro havia uma escada de mármore marrom e pintas pretas circunscritas por riscos cinza-claros. À direita o corrimão branco serpenteava por alguns metros sempre acompanhando o declive do caminho da entrada anexa. Encostei-me quase no fim daquelas barras, de maneira que era perfeitamente possível ver as pessoas chegando, entrando e saindo do hospital. Saquei minha Bíblia e passei a lê-la calmamente em pé.

Após meia hora, levantei meus olhos, embora mantivesse o Livro seguro diante do meu rosto, para ver d’onde ecoava o som do choro abafado que voz nenhuma consolava. Duas senhoras sentadas em dois lances da escada de mármore se alternavam nas lágrimas.  Uma delas, cujas lágrimas e lamentos eram copiosos e sem intervalos longos, tinha a aparência daquelas vovozinhas típicas; cãs branquíssimas como a neve dos Alpes suíços. A outra, na casa dos quarenta anos tinha cabelos muito curtos e cor de ferrugem, suspeitei ser a filha dela.
O segurança tentou consolar a anciã, sem sucesso. Uma mulher que por ali passava tocada pela cena também esboçou alguma palavra reconfortadora, mas foi igualmente infeliz.
Depois de hesitar várias vezes fui até às mulheres. Perguntei para a filha o que estava ocorrendo. — Minha mãe está inconsolável porque meu pai foi acometido de câncer. Ele está em estado terminal. Ele veio para cá gritando de dor. Está sedado, pois as dores são muito, muito fortes! Pelo menos, o médico disse que morrerá com dignidade. Disse-me acanhada.
­— Posso orar por vocês?
— Sim, pode. Sabe, o que me consola é que eu sei para onde ele está indo. Para o céu de glória...
— Vocês são de confissão cristã?
— Sim...da Congregação Cristã no Brasil. Retorquiu a mulher.
—Desculpe, preciso atender ao telefone.
— Posso falar com sua mãe?
— Fique à vontade...alô?!

Sentei-me próximo da senhora. Ela olhou para mim e falou com voz trêmula: — Oi moço. Tentei entabular conversações. Mas, lembrei-me das palavras do pr. Eugene Peterson, que perdeu seu pai para a mesma doença anos atrás. Em linhas gerais: “há momentos em que as palavras devem ser mudas.”A dor recusa ser mitigada com palavrórios.
Então desisti de verbalizar consolações. Fiquei ali apenas ouvindo.
— Meu marido e eu estamos casados há sessenta anos e nunca brigamos. Sempre nos amamos. Andávamos de mãos dadas sempre. As pessoas diziam “lá vai o casalzinho”’. Ele é saxofonista na igreja. Mas agora moço, eu, eu... A voz ficou embargada e ela voltou a chorar com a cabeça apoiada na parede.

Chegaram uns parentes. Duas moças. Dei lugar às garotas na escada. Abraçaram a senhora, levantaram-na e já se iam embora. Foi quando uma delas de cor branca, blusa colorida, cabelos longos, lábios grossos, usando óculos de lentes que escurecia sob a luz do dia, virou-se para mim, fitou-me com olhos marejados e educadamente disse-me o tchau mais triste que já ouvi nesta minha curta vida.
A filha mais velha deteve-se no último lance de escada:
— Ore por nós. Para que Deus nos dê o consolo necessário. Exclamou aparentemente consternada.
Mirei aquele quarteto durante seu afastamento para longe até desaparecer por completo ao dobrar a esquina.
Ali com os braços apoiados no corrimão via os carros passarem velozmente pela avenida molhada. Uma mulher na calçada falava ao celular balançando freneticamente a mão direita.

Duas lições ficaram gravadas na minha mente: ouça mais, fale menos; E, mesmo apesar das dores experimentadas por quem ficar aqui momentaneamente, nós cristãos temos a certeza absoluta de que a morte, na verdade, é tão somente um até logo. Dolorido, eu reconheço.
Mas o que Jesus disse não pode ser mudado. Se com Ele vivermos e morrermos, as portas do Paraíso serão abertas nas primeiras batidas.

A chuva parou.